13 de setembro de 2011

Sem Título [V]

Com o guarda-chuva na mão, subi a rua da Bahia com passos lentos, respirando cuidadosamente o ar úmido de outubro. Esbarrando em vultos molhados, entrei no Maleta e fui para o bar de sempre, na sobreloja. Sentei de frente para a rua e, entre um gole e outro de cerveja, observava o nada com os olhos vazios e os ouvidos atentos. Era a mesma mesa em que o Zé, meses atrás, sentara comigo e, com olhos profundos, murmurou aquele que eu ainda considero o melhor conselho do mundo:

“Deixa doer com força... Vai machucar? Vai. Vai doer até você não aguentar? E como vai... Vai sangrar? Muito. Mas é melhor assim. Quanto mais a gente deixa a dor doer, mais rápido ela gasta.”