Muito longe da cidade,
Onde os néons não alcançam.
Distante dos olhos oblíquos
Dos homens do poder.
Lá está o lixão,
Fétido, podre.
Imerso na imundície:
Lar dos renegados.
Lá no lixão
Um urubu cavouca o lixo
Em busca do seu sustento.
Tem também o cão
Sem dono e sem sina
Em busca de um osso
Pra aplacar sua escassez.
Os porcos estão lá.
Farejando os montes sujos
Em busca de carniça.
Do outro lado ele remexe o lixo.
Não é porco
Não é cão
Não é urubu
É criança
Levanta a cabeça
E grita pro horizonte:
“Mãe, achei nosso almoço!”