30 de agosto de 2010

Solidão


Ela não é opcional.

 

Tique-taque


Tique-taque... Tique-taque... O relógio inunda a sala com seu tiquetaquear incessante. Oito da noite. Logo ela virá. A mesa já está posta. Dois lugares prontos, dois pratos postos, dois cálices preparados para receber o vinho. Dois lugares vazios... Olho para o relógio que continua com aquele tiquetaquear contínuo... Tique-taque... Tique-taque... Olho pela janela os carros a passar pela rua, quem sabe num deles ela estará, não, ela não virá de carro, mora perto, virá a pé, são poucas quadras, mas parece tão distante... tique-taque... tique-taque... o tempo passa, o tempo não pára, tique-taque... oito e meia, como ela demora, a comida vai esfriar, espaguete ao molho sugo, seu prato predileto, tique-taque, tique-taque, olho o relógio, quando ela chegará? Do outro lado da rua a campainha toca, será que ela vai tocar a campainha ou entrará com a sua cópia da chave? Não sei, só sei que o relógio continua a me torturar com o seu tique-taque, tique-taque... o que vou dizer quando chegar? “Oi, tudo bem?”, “oi”, “sente-se”, “obrigada”, “você está linda”, “oh! obrigada”, “quer um pouco de vinho?”, “sim, obrigada”, “é um vinho italiano, safra de 1980”, “oh!”, talvez houvesse um oh!, talvez dois, quem sabe... tique-taque... tique-taque... “vamos comer”, “tudo bem”, “fiz seu prato preferido”, tique-taque... tique-taque... “está maravilhoso”... tique-taque... “obrigado”... tique-taque... “um brinde a nós”... tim-tim... tique-taque... tim-tim... tique-taque... olho para o relógio, continua a tiquetaquear, continua a me torturar sem parar, o tempo não pára, eu não paro, quando ela vai chegar? Tique-taque... tuque-tique... téque-taque... tique-taque... tique-taque... a campainha toca... blém... tique-taque... é ela... blém... tique-taque... ela chegou... tique-taque... finalmente o sofrimento acabou... tique-taque... tique-taque...

27 de agosto de 2010

Sem Título [II]

De manhã, quando despertar,
Olhe pela janela.
Sou eu que lhe chama.

Vamos dar uma volta pela praia,
Sentir a areia nos pés
E, com os cabelos bagunçados de vento,
Correr juntos de encontro às ondas.

E, ao olharmos para baixo
E vermos o astro celeste caído,
Saberemos que está tudo bem.

Vamos rolar na areia quente
E deixar o caranguejo seguir seu caminho torto.
Ria comigo, cante comigo e veja o céu sorrindo conosco.

E, ao elevarmos o olhar
E divisarmos as nuvens brancas,
Sentiremos-nos leves e aptos a voar.
Pois está tudo bem.
(Pois estamos juntos)

Sem Título [I]

Dê-me um motivo
Simples e concreto
Para poder acreditar
Que as árvores não falam,
Não sentem nem se importam.